um espaço afinal de partilha de ideias e sonhos, textos e afins, enfins que visam fazer contra-corrente por um mundo melhor... os ideais não colocam pão na mesa, mas se assumidos fazem a diferença em redor. fluir simplesmente e amar ferozmente o mundo.

sexta-feira, março 17, 2006

Segredo


Graham Jeffery





Eu sempre me sentei no segundo banco da praça.
Era um banco com rosas altas e alérgicas tílias em volta.
Eram meninas, corridas, mães, bolas, bengalas.
Tudo claro e verdadeiro, palpável, com graça.
Um céu aberto, mais além azul-mar.
O livro e eu.
Sentado, encostado, cruzado, cansado, deitado,
Sorrindo, a pensar, a sonhar.
O mundo era enorme e de rotação perversa.
As horas paravam junto a mim, abstractas.
Tudo era normal e conhecido, ponteiro-rotina marcado,
Tudo igual até um certo dia afinal...

Vi-te ao entardecer...
Conheço-te nos olhos meigos, cara-menina, cabelos curtos.
Não eras estranha, surpresa, novidade ou notícia,
Mas nesse dia, súbito raio de luz, senti-te mulher.
Vieste na minha órbita-direcção em passo acertado.
Um movimento sem ruído, doce volteio no ar, flutuando.
Sentada no mesmo (meu) banco nada disseste...
Tu bela, eu perto, tu serena, eu quente, tu anjo, eu calado.

Silêncio tranquilo e num repente perguntas:
O porquê de eu estar ali sentado, o meu nome, os meus sonhos,
Se estou à espera, se de partida, se vou ficar.
Quero conhecer-te, gosto do livro, gosto de ti.

Digo sozinho, vida agitada, ideais.
Diz-me esperar todos os dias pela minha presença.
Digo fixa no meu pensamento, lugar na memória.
Diz-me que sim, simpatia, mas é pouco, quer mais!

Digo que mais se pode pedir, o que há para dar.
Diz-me que não há procurar ou encontrar, simplesmente construir.
Digo pois, com calma se faz o caminho certo.
Diz-me que sim, mas nada a perder, arriscar sonhar.

Secretamente, a medo, sempre desejei a felicidade.
Nunca a esperei, pois não parecia que estivesse para vir.
Tive uma vida de sonhos imensos, mas sem ilusões coloridas,
E agora um furacão devasta inteiramente todo o meu ser.

A partir daquele sol-tarde tudo foi diferente.
Eu lutei, arrisquei, procurei, acreditei, descobri... consegui
Ela foi a ajuda, o ensino, o carinho, o incentivo.
Crescemos adultos-idade, sorrindo ternamente.

Fomos intensos, somos eternos e confiantes.
Fomos confusão, mas somos a única solução dos nossos problemas.
Eu quero e vejo os meus sonhos reais e palpáveis.
Tu, um piscar de olhos, e as sombras ficam distantes.

Há muito que não vinha à praça,
Sentar-me no segundo banco a sorrir, a sonhar.
Já não há rosas, apenas uma velha tília sem folhas,
E há um homem que tarda, uma bola, uma criança que passa...

Memórias repentinas, eu estou um pouco cansado.
Estás cada vez mais menina-bonita e querida,
E no banco da praça, juntos em mãos calmas,
Saboreamos o vento seco, o doce travo do passado.

Todos os dias olhos abertos a ti, coração profundo.
Um beijo, um pouco mais de música, sentir.
Eu, os mesmos sonhos, as imagens-fotografia, tu.
A casa, a cidade por inteiro e grosso modo, a razão.

Obrigado, amiga-mulher, minha vida.
Obrigado meu pai-anjo, guardador de todos os meus passos.
Obrigado sol e brisa, pelo conforto e alento, pela presença sentida
No segundo banco da praça, sempre a partir do meio do dia...

2 comentários:

Anónimo disse...

bonito e calmo...mico, continua. beijos

Anónimo disse...

um abraço de quem te humaniza uma especial pessoa corrente e que tenta de um modo subtil-discreto transparecer o teu legado!

espero que te tenham entregue o meu abraço pois, mesmo sem fisicamente te encontrar te mantenho sempre presente no meu olhar!

sabes onde me "encontrar"!
abraço-carinho , como tu em mim!

...como num banco de jardim...